terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A sobrevivência dos mais fortes? Ou ame o próximo como a ti mesmo?

 

“Ao longo da história, muitos grandes pensadores têm falado sobre a unidade fundamental que está na base da condição humana. Eles souberam e ensinaram que cada um de nós é verdadeiramente parte de uma família maior que inclui todas as pessoas de todos os lugares. Mas hoje o próprio futuro depende de algo mais do que apenas algumas pessoas sábias que compreendam esse conceito. A qualidade da vida da humanidade no futuro depende de um número cada vez maior de pessoas incorporando essa compreensão a suas rotinas. A saúde e a sobrevivência da espécie humana nos dias que virão dependem da profundidade com que entendermos a realidade de nossa interdependência.

Muitos de nós tendemos a achar que a natureza humana é inerentemente competitiva e destrutiva. Ouvimos falar de ‘genes do egoísmo’, como se nossa própria constituição genética predeterminasse que sejamos pessoas egoístas e que lutam umas contra as outras. Disseram-nos que nossa espécie traz um ‘instinto assassino’, e que para nós é normal e inevitável fazer guerras e massacres. (...) ‘Guerra, disse Dick Cheney, vice-presidente dos Estados Unidos, em 2004, é o ‘estado natural do homem’.

Cheney e os que pensam como ele acreditam que a condição humana é inata e inexoravelmente competitiva, e que toda a experiência humana é uma expressão do princípio darwiniano de ‘sobrevivência dos mais fortes’. Se eles estão certos, levando em conta a existência de armas nucleares, nossa espécie está quase que certamente condenada. No entanto, em A Origem do Homem, Charles Darwin mencionou a sobrevivência dos mais fortes apenas duas vezes, e em uma delas para se desculpar por usar o que ele achou que tinha sido uma frase infeliz e equivocada. Em contrapartida, ele escreveu 95 vezes sobre o amor. Em seus últimos escritos, Darwin enfatizou repetidamente que o modelo de seleção natural de ‘sobrevivência dos mais fortes’ perdeu importância na evolução humana e foi substituído pela sensibilidade moral, pela educação e pela cooperação.

Às vezes pensamos em nós mesmos essencialmente como chimpanzés elegantemente vestidos, observando que os chimpanzés têm certa propensão a enganar, à violência, ao roubo, ao infanticídio e até mesmo ao canibalismo. Mas é igualmente verdade que, entre os chimpanzés, os adversários mais duros se reconciliam depois de uma luta, estendendo a mão um ao outro, sorrindo, beijando-se e se abraçando. Além disso, existe um outro primata tão geneticamente semelhante a nós quanto o chimpanzé – o bonobo, uma espécie de macaco nativa do Congo. Se, em vez de estudar os chimpanzés em busca de pistas para a origem do comportamento humano, tivéssemos estudado os bonobos, teríamos chegado a conclusões muito diferentes. Em vez de um modelo de macaco assassino, teríamos tido um modelo de macaco amigo, porque esses primatas mostram uma sensibilidade fenomenal em relação ao bem-estar dos outros. Hoje, escreve Marc Barash em seu livro de 2005, Field Notes on the Compassionate Life (Notas de campo sobre a vida com compaixão), ‘os primatologistas estão encontrando nos bonobos provas de que não é a competição com unhas e dentes o princípio de organização central da evolução humana, mas o espírito de conciliação, o contato afetuoso e a cooperação’. Frans de Waal, um dos maiores especialistas em comportamento primata, chama isso de ‘sobrevivência dos mais bondosos’.

Afinal, que tipo de criatura somos nós? Existem aqueles que acreditam que os seres humanos são fundamentalmente egoístas e há os que crêem que somos essencialmente criaturas boas que precisam apenas de amor para florescer ; não fico com nenhuma dessas posições, ou talvez deva dizer que fico com as duas. Parece-me que temos um potencial quase infinito em ambas as direções. Em parte ego e em parte divinamente inspirados, temos tanto o potencial de competir quanto o de cooperar. Podemos criar sociedades como aquela que Ruth Benedict chamou de ‘grosseira e nojenta’ e outras como as que denominou ‘sinérgicas’. Dependendo do que escolhemos para afirmar e cultivar dentro de nós mesmos e de nossos filhos, podemos coletivamente transformar esse planeta num inferno ou num paraíso. Gostemos ou não, aceitemos ou não, nossas escolhas fazem uma diferença enorme. A maneira como tratamos a nós mesmos e um ao outro sempre importa.”
(ROBBINS, John. Saudável aos 100 anos: como aumentar radicalmente a sua qualidade de vida em qualquer idade. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009, pp. 272-274)