quarta-feira, 23 de março de 2011

Nietzsche, filosofia e vida

"Toda grande filosofia foi a confissão pessoal de seu autor"

Nietzsche

Ou seja, Nietzsche negava a distinção entre a filosofia de alguém e a sua vida.

(extraído de BUNNIN, Nicholas; TSUI-JAMES, E. P. [org.]. Compêndio de filosofia. 3ª ed., São Paulo: Edições Loyola, 2010, p. 893)

Voltaire e a liberdade de expressão

"Não concordo com nenhuma palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o direito que tens de dizê-las."

Voltaire

A verdade, segundo Oscar Wilde

"A verdade pura e simples raramente é pura e nunca é simples"

Oscar Wilde

Aristóteles, amizade e verdade

"Amicus Plato, sed magis amica veritas
(Platão é meu amigo, mas sou mais amigo da verdade) 


Aristóteles

segunda-feira, 21 de março de 2011

Spinoza e o cultivo das emoções positivas, por António Damásio


Transcrevo, abaixo, um trecho do livro "Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos" (cuja leitura desde logo recomendo), do neurocientista português António Damásio.

Como já mencionei neste blog em um post anterior, há muito em comum entre a filosofia ocidental e a oriental. Os orientais descobriram há séculos a importância do cultivo racionalmente deliberado das emoções positivas, e é mais ou menos isto que Spinoza iria propor posteriormente, no século XVII. Este, inclusive, é o princípio básico do budismo (que sugere a meditação compassiva diária).

No texto abaixo o termo "paixão", que é plurissignificativo, foi utilizado pelo autor como sinônimo de emoção negativa (que gera sofrimento), e não como representativo de afeição romântico-sexual. Segue o trecho:

"Espinosa propôs também que o poder dos afetos é tal que a única possibilidade de triunfar sobre um afeto negativo - uma paixão irracional - requer um afeto positivo ainda mais forte, desencadeado pela razão. Um afeto não pode ser controlado ou neutralizado exceto por um afeto contrário mais forte do que o afeto que necessita ser controlado. Em outras palavras, Espinosa recomendava que lutássemos contra as emoções negativas com emoções ainda mais fortes mas positivas, conseguidas por meio do raciocínio e do esforço intelectual. A noção de que subjugar as paixões devia depender de emoções guiadas pela razão, e não da razão pura, é parte central do pensamento espinosiano. Essa recomendação não é fácil de realizar mas Espinosa nunca deu grande valor a nada que fosse fácil."

(DAMÁSIO, António. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, p. 20)


sábado, 19 de março de 2011

Spinoza, por Stephen Law


Segue uma brevíssima e concisa (mas muito clara e válida) apresentação de Baruch Spinoza, por Stephen Law:

“Spinoza foi o mais radical dos primeiros pensadores modernos. Ele aplicou os métodos da matemática à filosofia e construiu um elaborado sistema metafísico seguindo princípios racionais. Sua crítica da religião organizada e suas idéias políticas liberais [1] valeram-lhe muitos inimigos.

Vida e obra

Expulsa de Portugal pela Inquisição, a família de Spinoza estabeleceu-se em Amsterdam, onde Baruch nasceu. De criação judaica ortodoxa, foi um estudante talentoso, mas abandonou os estudos formais aos 17 anos para ingressar no negócio da família.

Em 1656 foi expulso da comunidade judaica – consequência inevitável de expressar idéias, que apareceriam em seus escritos posteriores, como a negação dos judeus como o povo escolhido e da imortalidade da alma ou a rejeição da idéia de um Deus pessoal ou da Bíblia como verdade revelada. Mudou seu nome para a forma latina, Benedictus, e deixou Amsterdam, encontrando emprego no fabrico de lentes (que lapidava e polia) para telescópios, microscópios e outros novos instrumentos ópticos da época.

Spinoza concluiu em 1663 a única obra que publicou durante sua vida sob seu próprio nome, Os princípios da filosofia de Descartes, uma exposição crítica. A essa altura, trabalhava também no Tratado teológico-político, que, publicado anonimamente em 1670, o cobriu de infâmia, e na sua obra prima, Ética, publicada postumamente.

Morreu jovem de tuberculose, provavelmente precipitada pela inalação de poeira de vidro ao polir lentes.

Idéias-chave

A obra-prima de Spinoza, Ética, é apresentada à maneira de um manual de geometria. Começando com axiomas e definições de, p. ex., 'substância' e 'atributo', deduz uma série de teoremas e, por fim, constrói um sistema complexo, abrangendo metafísica, ética e psicologia, tudo estabelecido de maneira desapaixonada, como se estudasse linhas, planos e sólidos.

Na primeira seção, Spinoza estabelece que só pode haver uma única substância, não podendo haver nada fora do mundo natural. Sendo tudo que existe, essa substância única corresponde ao que normalmente entendemos pelas palavras 'natureza' e 'Deus', significando que são uma só coisa.

Embora Spinoza tenha exposto vários argumentos para provar a existência de Deus, a aparente identificação de Deus com a substância material pareceu a muitos equivaler a ateísmo e foi a principal razão para a sua condenação como apóstata e sua notoriedade como um radical contestador e perigoso.

Duas maneiras de conhecer

Embora haja apenas uma substância, ela tem diferentes modos. Temos ciência de dois deles, mente e matéria. Em outras palavras, o mental e o físico constituem as duas maneiras pelas quais temos ciência da substância única. Esse desenvolvimento do dualismo cartesiano de mente e corpo parece implicar que todas as coisas físicas, não só corpos humanos, têm sensações, em certo grau. Outra implicação é que a desintegração do corpo deve envolver a morte da pessoa, portanto não há lugar para recompensas ou punições sobrenaturais.

Teologia e política

Em Tratado teológico-político, Spinoza foi o primeiro a examinar a Bíblia e as [demais] Escrituras [sagradas] como documentos históricos, não como verdade revelada, e concluiu que foram escritas por muitos autores, ao longo de muitos anos. Rejeitou a teologia do Antigo Testamento como antropomórfica e afirmou que seus mitos e contos não deveriam ser interpretados literalmente. A importância da Bíblia reside em sua mensagem moral. A análise rigorosa dos textos, afirmou Spinoza, mostra que eles apóiam a tolerância de diferentes idéias religiosas.

Como Hobbes antes dele (p. 275), Spinoza usou a idéia de um estado original de natureza em seu pensamento político, mas sustentou que o governo só goza do direito de exercer poderes na medida em que pode esperar a cooperação de seus cidadãos, e que deveria conceder liberdade de expressão e prática religiosa como o melhor meio para assegurar a boa ordem pública.

Spinoza defendeu a democracia como a forma mais estável de governo e o sistema que melhor promove o bem-estar individual – algo que só podemos alcançar escapando da escravidão de nossas paixões por bens efêmeros e superstições religiosas, e vivendo em busca do conhecimento.”

( LAW, Stephen. Filosofia. 2ª ed., Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2009, pp. 280-281 )

[1] Nota do gestor do blog: o termo "liberalismo" foi aqui empregado para denotar a corrente de pensamento que preconizava a limitação dos poderes estatais em prol das liberdades individuais e dos demais direitos fundamentais. Neste sentido, Spinoza (como outros filósofos do período) antecipava o ideário iluminista.    

quarta-feira, 16 de março de 2011

Estudo e raciocínio lógico

Por Augusto Mascarenhas


Tão importante quanto estudar é treinar a mente para raciocinar de modo lógico e coerente, sob os aspectos formal, material e sistêmico (devendo-se sempre atentar para a necessidade de acoplar coerentemente as lógicas sistêmicas parciais ao sistema geral, mais amplo). Na minha opinião, a boa sintaxe na expressão verbal  (oral ou escrita) deriva de um pensamento logicamente correto.

Em temas importantes ou profundos, também é necessário treinar o cérebro para operar com definições conceituais mais precisas e claras.

Além disso, considero necessário dar tempo à mente para digerir, processar e organizar as informações obtidas em um determinado período de estudo. O cérebro precisa, ainda, ter tempo para relacionar e estabelecer nexos lógicos (se os raciocínios forem neutros) ou axiológicos (se valorativos) entre as novas informações e a base já existente de conhecimentos e idéias.  

O amadurecimento das idéias nem sempre ocorre de modo rápido. É cediço que Hegel, por exemplo, era um pensador que procedia lentamente.

Há pessoas que estudam bastante, mas a organização, clareza, logicidade, coerência e profundidade do seu pensamento deixa um pouco a desejar, o que atrapalha o aprendizado e às vezes inviabiliza uma discussão relevante.

Ou seja, há pessoas (algumas delas até mesmo se auto-intitulam filósofas ou cientistas) que, paradoxalmente, estudam muito mas pensam e refletem pouco.