Por Augusto Mascarenhas
Os banqueiros lucram bilhões cobrando juros todos os anos, e formam um
patrimônio pessoal gigantesco.
Aí acontece de alguns
banqueiros (que querem mais dinheiro, embora já tenham acumulado bilhões) darem
alguns golpes financeiros nos correntistas (p. ex, gestão fraudulenta, com
desvio de dinheiro para o próprio bolso ou para o caixa 2 de campanhas
políticas; ou má gestão, emprestando dinheiro de modo arriscado a terceiros com
baixa solvabilidade) que geram uma situação financeira ruim para o banco (mas
não para o banqueiro).
Então, o que os governantes
(que foram eleitos com o dinheiro doado pelos bancos para o financiamento de
campanha, principalmente via caixa 2) fazem?
Pegam o dinheiro (tributos) do
contribuinte trabalhador (que já não dispõe de bons serviços públicos) e dizem
que têm que usá-lo para "salvar os bancos " e "evitar o risco de
o sistema bancário ser contaminado com uma crise de confiança e quebrar"
(o chamado "risco sistêmico").
O risco sistêmico ocorre
porque diante da notícia de que um banco está para quebrar, correntistas
de outros bancos podem ser tentados a retirar o seu dinheiro destes últimos. E se todos correm para tirar o seu dinheiro dos bancos, o sistema quebra, pois como os bancos emprestam o dinheiro dos correntistas a terceiros, não dispõem de numerário suficiente para devolver o dinheiro de todos os correntistas caso estes resolvam sacá-lo de volta no mesmo momento.
Então, para evitar o tal do
"risco sistêmico" (que geralmente é mais fictício do que real, já que
não há critérios seguros para avaliar a efetiva existência do risco) os
governos (leia-se: os políticos financiados pelos banqueiros) pegam o dinheiro
público e compram a parte "podre" (endividada com títulos que não
serão quitados) do banco, e devolvem a parte "sã" (lucrativa) ao
"mercado" (ou seja, aos próprios banqueiros, que sempre ganham).
Desta forma, os financistas conseguem sempre privatizar os lucros e socializar
os prejuízos.
Mas como os banqueiros
conseguem isto? A questão é que a posse (não necessariamente a propriedade) de
altas somas de dinheiro confere-lhes um grande poder de
"influenciar" (rectius: corromper ou intimidar) políticos, altos funcionários do
governo e magistrados das cortes superiores, e assim os financistas obtêm quase
sempre decisões (no âmbito dos três Poderes) favoráveis aos seus interesses.
Lembrando que quem arca com o
altíssimo custo da operação de "salvamento" é o contribuinte de
tributos (ou seja, nós). Todos os cidadãos pagam tributos, direta ou
indiretamente. Em cada produto ou serviço que nós compramos está embutido ICMS,
ISS etc. E quando dinheiro de tributos é direcionado para "salvar"
bancos, o governo deixa de investir em educação, saúde, fomento à cultura de
qualidade etc.
No caso dos políticos que
integram o Poder Executivo, esta big "ajuda" aos bilionários banqueiros, com
dinheiro público, garante que nas próximas eleições estes últimos (os banqueiros) farão
generosas doações (declaradas [lícitas] e sobretudo não declaradas [ilegais])
para campanhas políticas.
Enquanto isso, os banqueiros
que deram causa à possibilidade de "risco sistêmico" continuam com o
seu gigantesco patrimônio pessoal intocado (mansões, iates, hotéis, cassinos,
indústrias, ações etc), não são processados por gestão fraudulenta/temerária
(ou, se o são, não são condenados pelo Judiciário - em razão de incompetência,
ineficiência ou corrupção), e quem se dá mal é o contribuinte trabalhador. Mesmo que o banco vá à falência (o que é raro) e feche as suas portas, o banqueiro sempre dá um jeito de manter o seu patrimônio pessoal intocado (ou quase totalmente intocado). Há advogados especializados em "blindagem de bens", que utilizam todos os artifícios possíveis (colocação de bens em nome de "laranjas" ou familiares, corrupção ativa de magistrados, promotores etc) para tal finalidade.
Então, esta é a "megamaracutaia do risco sistêmico" que sempre se repete. Já aconteceu no Brasil (no caso do PROER na década de
80), aconteceu há alguns anos nos EUA, e agora acontece na Europa. E neste ano
de 2011 o governo brasileiro já concedeu algumas bilionárias anistias tributárias
a bancos (sob a mesma alegação de possibilidade de contaminação com a crise européia e risco sistêmico).
As pessoas precisam entender
como funciona o golpe e dar um basta nesta roubalheira
institucionalizada, exigindo novas formas de financiamento de campanhas
políticas, regulamentação e fiscalização eficiente da gestão financeira dos
bancos, responsabilização criminal e civil efetiva dos banqueiros que praticam
gestão fraudulenta ou temerária, dentre outras medidas. Atualmente temos praticamente no mundo inteiro governos dos bancos e para os bancos, sendo que estes dominam a grande mídia e os políticos. Estes dois elementos (grande mídia e políticos) são somente serviçais dos banqueiros (com raras exceções entre os políticos).
Já é hora de entender os
mecanismos e relações diretas e indiretas que geram a ação destas máfias e
lesam as pessoas comuns, como nós. E, depois, deve-se começar a pensar numa
nova formatação (mais publicista e menos privatista) para o sistema financeiro. É necessária também a implantação urgente de um novo sistema de financiamento de campanha, que possibilite ao político se comprometer com o interesse público e não com o interesse dos grandes financiadores.