sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Oração a śrī Gaṇeśa

 

 वक्रतुण्ड महाकाय सूर्यकोटिसमप्रभ ।

निर्विघ्नं कुरु मे देव सर्वकार्येषु सर्वदा ।। 

 

vakratuṇḍa mahākāya sūryakoṭisamaprabha |
nirvighnam kuru me deva sarvakāryeṣu sarvadā ||


Ó Senhor (Gaṇeśa), que tem uma tromba curva, que possui um corpo enorme, que tem esplendor igual a milhões de sóis, me faça sempre livre de obstáculos em todos os meus empreendimentos.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

O presente e o futuro dos movimentos "Occupy", por Leonardo Boff


No mundo capitalista vigora a crença generalizada, difundida pela grande mídia (associada ao capital), de que se alguns bancos quebrarem a economia de um país também pode quebrar (v. as origens desta ideia no meu texto abaixo sobre "A mega maracutaia do risco sistêmico"). Contudo, as constatações do renomado economista Paul Krugman, citadas no artigo abaixo de Leonardo Boff, não endossam esta crença. 


"Para onde irão os Indignados e os 'Occupiers'?

12/02/2012

Uma das mesas de debates importante no Forum Social Temático em Porto Alegre, da qual me coube participar, foi escutar os testemunhos vivos dos Indignados da Espanha, de Londres, do Egito e dos USA. O que me deixou muito impressionado foi a seriedade dos discursos, longe do viés anárquico dos anos 60 do século passado com suas muitas “parolle”. O tema central era “democracia já”. Revindicava-se uma outra democracia, bem diferente desta a que estamos acostumados, que é mais farsa do que realidade. Querem uma democracia que se constrói a partir da rua e das praças, o lugar do poder originário. Uma democracia que vem de baixo, articulada organicamente com o povo, transparente em seus procedimentos e não mais corroída pela corrupção. Esta democracia, de saida, se caracteriza por vincular justiça social com justiça ecológica.
Curiosamente, os indignados, os “occupiers” e os da Primavera Árabe não se remeteram ao clássico discurso das esquerdas, nem sequer aos sonhos das várias edições do Forum Social Mundial. Encontramo-nos num outro tempo e surgiu uma nova sensibilidade. Postula-se outro modo de ser cidadão, incluindo poderosamente as mulheres antes feitas invisíveis, cidadãos com direitos, com participação, com relações horizontais e transversais facilitadas pelas redes sociais, pelo celular, pelo twitter e pelos facebooks. Temos a ver com uma verdadeira revolução. Antes as relações se organizavam de forma vertical, de cima para baixo. Agora é de forma horizontal, para os lados, na imediatez da comunicação à velocidade da luz. Este modo representa o tempo novo que estamos vivendo, da informação, da descoberta do valor da subjetividade, não aquela da modernidade, encapsulada em si mesma, mas da subjetividade relacional, da emergência de uma consciência de espécie que se descobre dentro da mesma e única Casa Comum, Casa, em chamas ou ruindo pela excessiva pilhagem praticada pelo nosso sistema de produção e consumo.
Essa sensibilidade não tolera mais os métodos do sistema de superar a crise econômica e derivadas, sanando os bancos com o dinheiro dos cidadãos, impondo severa austeridade fiscal, a desmontagem da seguridade social, o achatamento dos salários, o corte dos investimentos no pressuposto ilusório de que desta forma se reconquista a confiança dos mercados e se reanima a economia. Tal concepção é feita dogma e aí se ouve o estúpido bordão:“TINA: there is no alternative”, não há alternativa. Os sacrílegos sumos sacerdotes da trindade nada santa do FMI, da União Européia e do Banco Central Europeu deram um golpe financeiro na Grécia e na Itália e puseram lá seus acólitos como gestores da crise, sem passar pelo rito democrático. Tudo é visto e decidido pela ótica exclusiva do econômico, rebaixando o social e o sofrimento coletivo desnecessário, o desespero das famílias e a indignação dos jovens por não conseguirem trabalho. Tudo pode desembocar numa crise com consequências dramáticas.
Paul Krugmann, prêmio Nobel de economia, passou uns dias na Islândia para estudar a forma como esse pequeno pais ártico saiu de sua crise avassaladora. Seguiram o caminho correto que outros deveriam também ter seguido: deixaram os bancos quebrar, puseram na cadeia os banqueiros e especuladores que praticaram falcatruas, reescreveram a constituição, garantiram a seguridade social para evitar uma derrocada generalizada e conseguiram criar empregos. Consequência: o pais saiu do atoleiro e é um dos que mais cresce nos paises nórticos. O caminho islandês foi silenciado pela midia mundial de temor de que servisse de exemplo para os demais países. E a assim a carruagem, com medidas equivocadas mas coerentes com o sistema, corre célere rumo a um precipício.
Contra esse curso previsível se opõem os indignados. Querem um outro mundo mais amigo da vida e respeitoso da natureza. Talvez a Islândia servirá de inspiração. Para onde irão? Quem sabe? Seguramente não na direção dos modelos do passado, já exauridos. Irão na direção daquilo que falava Paulo Freire “do inédito viável” que nascerá desse novo imaginário. Ele se expressa, sem violência, dentro de um espírito democrático-participativo, com muito diálogo e trocas enriquecedoras. De todas as formas o mundo nunca será como antes, muito menos como os capitalistas gostariam que ficasse.


(Disponível em : 
http://leonardoboff.wordpress.com/2012/02/12/para-onde-irao-os-indignados-e-os-occupiers/  ; Acesso em 26 fev. 2012)


segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Como as grandes potências sugam os países subdesenvolvidos

Veja abaixo o depoimento de John Perkins sobre os artifícios usados pelas grandes potências, em conluio com as instituições financeiras internacionais (FMI, Banco Mundial etc), para se apropriar dos recursos naturais dos países subdesenvolvidos.



sábado, 12 de novembro de 2011

"The american dream" - A história do sistema financeiro internacional

Dando prosseguimento à série de posts sobre a atual formatação do sistema financeiro mundial e seus efeitos perniciosos no mundo em que vivemos, segue o ótimo vídeo "The american dream", que conta a história do referido sistema desde as suas origens remotas.



A mega maracutaia do "risco sistêmico" no sistema financeiro


Por Augusto Mascarenhas


Os banqueiros lucram bilhões cobrando juros todos os anos, e formam um patrimônio pessoal gigantesco. 

Aí acontece de alguns banqueiros (que querem mais dinheiro, embora já tenham acumulado bilhões) darem alguns golpes financeiros nos correntistas (p. ex, gestão fraudulenta, com desvio de dinheiro para o próprio bolso ou para o caixa 2 de campanhas políticas; ou má gestão, emprestando dinheiro de modo arriscado a terceiros com baixa solvabilidade) que geram uma situação financeira ruim para o banco (mas não para o banqueiro).

Então, o que os governantes (que foram eleitos com o dinheiro doado pelos bancos para o financiamento de campanha, principalmente via caixa 2) fazem?

Pegam o dinheiro (tributos) do contribuinte trabalhador (que já não dispõe de bons serviços públicos) e dizem que têm que usá-lo para "salvar os bancos " e "evitar o risco de o sistema bancário ser contaminado com uma crise de confiança e quebrar" (o chamado "risco sistêmico").

O risco sistêmico ocorre porque diante da notícia de que um banco está para quebrar, correntistas de outros bancos podem ser tentados a retirar o seu dinheiro destes últimos. E se todos correm para tirar o seu dinheiro dos bancos, o sistema quebra, pois como os bancos emprestam o dinheiro dos correntistas a terceiros, não dispõem de numerário suficiente para devolver o dinheiro de todos os correntistas caso estes resolvam sacá-lo de volta no mesmo momento. 

Então, para evitar o tal do "risco sistêmico" (que geralmente é mais fictício do que real, já que não há critérios seguros para avaliar a efetiva existência do risco) os governos (leia-se: os políticos financiados pelos banqueiros) pegam o dinheiro público e compram a parte "podre" (endividada com títulos que não serão quitados) do banco, e devolvem a parte "sã" (lucrativa) ao "mercado" (ou seja, aos próprios banqueiros, que sempre ganham). Desta forma, os financistas conseguem sempre privatizar os lucros e socializar os prejuízos.

Mas como os banqueiros conseguem isto? A questão é que a posse (não necessariamente a propriedade) de altas somas de dinheiro confere-lhes um grande poder de "influenciar" (rectius: corromper ou intimidar) políticos, altos funcionários do governo e magistrados das cortes superiores, e assim os financistas obtêm quase sempre decisões (no âmbito dos três Poderes) favoráveis aos seus interesses.

Lembrando que quem arca com o altíssimo custo da operação de "salvamento" é o contribuinte de tributos (ou seja, nós). Todos os cidadãos pagam tributos, direta ou indiretamente. Em cada produto ou serviço que nós compramos está embutido ICMS, ISS etc. E quando dinheiro de tributos é direcionado para "salvar" bancos, o governo deixa de investir em educação, saúde, fomento à cultura de qualidade etc. 

No caso dos políticos que integram o Poder Executivo, esta big "ajuda" aos bilionários banqueiros, com dinheiro público, garante que nas próximas eleições estes últimos (os banqueiros) farão generosas doações (declaradas [lícitas] e sobretudo não declaradas [ilegais]) para campanhas políticas. 

Enquanto isso, os banqueiros que deram causa à possibilidade de "risco sistêmico" continuam com o seu gigantesco patrimônio pessoal intocado (mansões, iates, hotéis, cassinos, indústrias, ações etc), não são processados por gestão fraudulenta/temerária (ou, se o são, não são condenados pelo Judiciário - em razão de incompetência, ineficiência ou corrupção), e quem se dá mal é o contribuinte trabalhador. Mesmo que o banco vá à falência (o que é raro) e feche as suas portas, o banqueiro sempre dá um jeito de manter o seu patrimônio pessoal intocado (ou quase totalmente intocado). Há advogados especializados em "blindagem de bens", que utilizam todos os artifícios possíveis (colocação de bens em nome de "laranjas" ou familiares, corrupção ativa de magistrados, promotores etc) para tal finalidade. 

Então, esta é a "megamaracutaia do risco sistêmico" que sempre se repete. Já aconteceu no Brasil (no caso do PROER na década de 80), aconteceu há alguns anos nos EUA, e agora acontece na Europa. E neste ano de 2011 o governo brasileiro já concedeu algumas bilionárias anistias tributárias a bancos (sob a mesma alegação de possibilidade de contaminação com a crise européia e risco sistêmico). 

As pessoas precisam entender como funciona o golpe e dar um basta nesta roubalheira institucionalizada, exigindo novas formas de financiamento de campanhas políticas, regulamentação e fiscalização eficiente da gestão financeira dos bancos, responsabilização criminal e civil efetiva dos banqueiros que praticam gestão fraudulenta ou temerária, dentre outras medidas. Atualmente temos praticamente no mundo inteiro governos dos bancos e para os bancos, sendo que estes dominam a grande mídia e os políticos. Estes dois elementos (grande mídia e políticos) são somente serviçais dos banqueiros (com raras exceções entre os políticos). 

Já é hora de entender os mecanismos e relações diretas e indiretas que geram a ação destas máfias e lesam as pessoas comuns, como nós. E, depois, deve-se começar a pensar numa nova formatação (mais publicista e menos privatista) para o sistema financeiro. É necessária também a implantação urgente de um novo sistema de financiamento de campanha, que possibilite ao político se comprometer com o interesse público e não com o interesse dos grandes financiadores.

A crise do capitalismo, por David Harvey

O vídeo abaixo (baseado nas ideias do geógrafo britânico David Harvey) aborda diversas questões interessantes que auxiliam a compreensão do mundo atual. Eu destaco duas: 1) a necessidade de ampliar o debate público sobre o sistema capitalista atual; e 2) a necessidade de responsabilização efetiva de banqueiros que aplicam golpes nos seus correntistas, ou que corrompem agentes estatais (a necessidade de responsabilização é simbolizada pelo quadro final do vídeo). Atualmente os sistemas punitivos não dão resposta adequada para esta segunda questão.