segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O que é a filosofia? - 1

Por Augusto Mascarenhas


Há muitas definições para o termo "filosofia".

Um conceito possível e bastante simples que me ocorreu, e do qual eu gosto muito, é: a filosofia é uma forma ou estilo de pensamento que caracteriza-se pela profundidade,  análise, questionamento, investigação, elevada clareza e precisão  no manejo dos conceitos e proposicões,  bem como pelo extremo rigor lógico e linguístico.


Esta definição tem mais a ver com a filosofia ocidental, que é mais racional-especulativa do que vivencial.


Mas penso ser necessário que o pensamento ocidental se liberte de certos preconceitos e assimile alguns aspectos vivenciais das filosofias orientais, tais como a alteração e estabilização consciente do próprio estado de consciência  (chita vritti nirodha - que não deve ser interpretado como "supressão dos pensamentos", nem como "parar de pensar"), a fluência da intuição e a ampliação da consciência corporal. Os componentes éticos do pensamento oriental, como o cultivo deliberado da compaixão (que deflui da prática de ahimsa) e do contentamento (santosha  [que não se confunde com conformismo])  também merecem ser abordados de maneira mais ampla pelos ocidentais.

Na verdade, este processo de interligação já vem ocorrendo, como deixam transparecer  alguns pontos do pensamento de Schopenhauer,  Hegel, Scheling, Husserl, Jung, Merleau-Ponty, dentre outros. Mas ele ainda pode se aprofundar muito mais.

Contudo, no ocidente parece ter ocorrido, de maneira geral, uma dissociação relativa entre a especulação teórico-filosófica e o comportamento (ação) do filósofo no mundo (o que é  um tanto inconcebível para os orientais). Mas creio que esta tendência pode ser revertida.  

Penso que o cultivo da atitude filosófica deve se dar sempre em benefício do indivíduo e da coletividade, respeitando, na medida do possível, a essência das tradições culturais que conferem coesão e harmonia aos diversos grupos sociais.
 
A filosofia ajuda a clarificar e organizar o pensamento; amplia o poder de compreensão, facilitando o aprendizado de outras disciplinas e capacitando o indivíduo a desfazer confusões, falsidades e invencionices que lhe são apresentadas por terceiros como sendo a verdade; e torna as pessoas mais seguras, menos ingênuas e, consequentemente, menos manipuláveis.

O estilo filosófico não é, ao menos para mim, incompatível com o cultivo do bom humor,  das relações sociais leves e amorosas e das artes. Muito pelo contrário.

Filosofar também não é viver fora da realidade. É aprofundar-se nela, em todos os seus aspectos. 


Na minha opinião, a filosofia (na forma integral [ou seja, teórico-vivencial] proposta neste texto) é, sem sombra de dúvida, uma forma de libertação.
 


sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Diálogo entre dois mundos

Por Augusto Mascarenhas


O diálogo entre as tradições filosóficas ocidentais e orientais nem sempre é fácil. 

Embora existam muitos paralelos entre as duas grandes correntes (muito mais do que se costuma imaginar), as diferenças de conceitos, valores, metodologias, formas de pensar,  crenças e significados atribuídos a símbolos geram às vezes mal-entendidos e interpretações antagônicas.

Mas creio que este antagonismo é mais aparente do que real. No fundo, os pensadores ocidentais e os orientais buscam a mesma coisa e as duas tradições oferecem contribuições  inestimáveis com vistas ao encontro das respostas almejadas. Logo, penso que não existe razão para que não dialoguem com serenidade e respeito mútuo.

Felizmente, muitas pessoas sérias estão trabalhando nisto.

De qualquer modo, venho aprendendo que o sucesso em qualquer comunicação depende do cumprimento estrito de ahimsa (não-agressão), inclusive nos seus aspectos mais sutis. Aliás, isto é uma coisa que eu mesmo preciso exercitar melhor.

sábado, 11 de dezembro de 2010

E a crise ambiental se aprofunda

Falhas na ação contra ameaças à sustentabilidade global deixam o mundo perto do desastre

"(...) [Durante os últimos quatro anos], a falta de capacidade do mundo para encarar a realidade da crescente crise ambiental se tornou ainda mais evidente. As principais metas estabelecidas por organismos internacionais para políticas ambientais globais para o ano de 2010 foram adiadas, ignoradas ou mesmo desmoronaram. Lamentavelmente, este ano talvez seja o mais quente de todos os tempos, outro indício de catástrofes ambientais induzidas pelo  homem e fora de controle.

Deveria ser o ano da biodiversidade. Em 2002 os países se comprometeram, sob os auspícios da Convenção sobre Diversidade Biológica das Nações Unidas, a diminuir significativamente a perda de biodiversidade do planeta até 2010. Essa meta não foi nem remotamente alcançada. (...)
 
Este ano também deveria ser o início do novo tratado pós-Kyoto, mas esse esforço não teve sucesso por causa da contínua paralisia na elaboração de políticas americanas. O presidente Barack Obama foi de mãos abanando para as negociações de mudanças climáticas de Copenhague, e os Estados Unidos, China e outras potências se contentaram com uma declaração não obrigatória de sentimentos e objetivos no lugar de uma estratégia operacional e processo de implementação.

De acordo com a campanha eleitoral de Obama em 2008, este também deveria ser o primeiro ano de uma nova política sobre clima e energia, e o segundo ano da 'recuperação verde'. Não fizemos nenhum dos dois. A recuperação foi destruída: Obama apostou em 'estimular' consumidores desanimados em vez de um programa de investimentos públicos em infraestrutura sustentável a longo prazo. O Senado [norte-americano], conforme manda o figurino, manteve seu 18º ano de inação diante do aquecimento global desde a aprovação da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima em 1992.

Este ano foi dominado pela falsa controvérsia do 'Climategate', que envolveu o vazamento de e-mails de uma unidade de pesquisas climáticas britânica; a direita política caracterizou a linguagem inadequada nas mensagens como uma prova de um imenso complô global. Forças independentes rejeitaram a acusação de conspiração científica, mas o estrago já estava feito: o público americano, mais uma vez, se inclina na direção da descrença sobre a mudança climática induzida pelo homem.

Estamos perdendo não somente tempo, mas também a garantia de segurança planetária, conforme o mundo se aproxima ou infringe diversos limites de risco ambiental. Com o contínuo crescimento da população humana de cerca de 75 milhões de pessoas ou mais por ano e com um forte progresso econômico em grande parte dos países em desenvolvimento, se intensificam a sobrecarga do desmatamento, a poluição, as emissões de gases do efeito estufa, as espécies em extinção, a acidificação do oceano e outras ameaças globais.

Quais características mais relevantes dos nossos processos socioeconômicos nacionais e globais causam esses repetidos insucessos?

Primeiro, os riscos da sustentabilidade são verdadeiramente sem precedentes em sua escala global e chegaram à sociedade um tanto repentinamente nas duas últimas gerações.

Segundo, os problemas são cientificamente complexos e envolvem enormes incertezas. Não apenas a opinião pública deve se inteirar da realidade, mas as ciências-chave devem se esforçar para medir, avaliar e abordar novos desafios.

Em terceiro lugar, apesar de os problemas serem globais, ações políticas são notoriamente locais, o que prejudica ações oportunas coordenadas internacionalmente.

Quarto, os problemas estão se revelando ao longo das décadas, enquanto a amplitude da atenção dos políticos chega somente até a próxima eleição e a maior parte da atenção do público só chega até a próxima refeição ou salário.

E quinto, os grupos de interesses corporativos dominam o lado sombrio da propaganda e podem utilizar seus grandes recursos para adquirir um mar de informações deliberadamente incorretas para ludibriar o público.


Scientific American e o Earth Institute estão comprometidos em um mesmo esforço crucial: levar a ciência objetiva para a esfera pública e fortalecer cidadãos democráticos que têm de se tornar gestores responsáveis do planeta antes que seja tarde demais."

(SACHS, Jeffrey. E a crise se aprofunda: Falhas na ação contra ameaças à sustentabilidade global deixam o mundo perto do desastre. Scientific American Brasil, nº 101, out. 2010, São Paulo: Ediouro Duetto Editorial, p.23)

Desinflação egóica

Tente exercitar diariamente a desinflação egóica.

E, onde quer que você vá, vá com humildade e amor no coração.

Assim, estará blindado, e provavelmente será mais feliz.

Mas, é claro, nenhuma blindagem é 100% invulnerável.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Percepção sutil

Há uma coisa que o meu atual professor de Yoga sempre diz durante o sádhana ou mesmo em bate-papos informais: cultive, aguce e desenvolva a sua percepção sutil.


Tenho posto esta lição em prática, em diversos aspectos da vida, e venho percebendo os bons resultados.

Ciência e fé

Para aqueles que se interessam pelas explicações neurocientíficas e biológicas quanto ao fenômeno da crença humana no sobrenatural, sugiro a leitura da revista "Grandes Temas Mente & Cérebro" nº 1, cujo tema é "Fé: o lugar da divindade no cérebro" (Editora Duetto). 

Trata-se de uma coletânea de artigos muito esclarecedores sobre a questão.

A revista "Mente & Cérebro" é a edição brasileira da revista alemã "Gehirn & Geist", sobre psicologia e neurociências.

A edição que citei encontra-se nas bancas, mas também é possível comprá-la diretamente no site da editora: http://www2.uol.com.br/vivermente/ 

Yoga na terceira idade

Se algum dia eu for instrutor de alguma modalidade de Hatha Yoga (atualmente todas as modalidades de Yoga que existem, se incluírem ásanas [posições] e pránáyámas [respiratórios], são variações de Hatha Yoga), creio que meu público alvo será principalmente os idosos, pois eles são os que mais necessitam dos benefícios que surgem desta prática.

Na minha opinião, a ética de Nietzsche (que basicamente consiste numa crítica aos valores judaico-cristãos) não é a mais adequada, inclusive porque o seu ponto de partida é uma interpretação equivocada do darwinismo. No futuro escreverei sobre o tema neste blog.