sábado, 12 de novembro de 2011

A mega maracutaia do "risco sistêmico" no sistema financeiro


Por Augusto Mascarenhas


Os banqueiros lucram bilhões cobrando juros todos os anos, e formam um patrimônio pessoal gigantesco. 

Aí acontece de alguns banqueiros (que querem mais dinheiro, embora já tenham acumulado bilhões) darem alguns golpes financeiros nos correntistas (p. ex, gestão fraudulenta, com desvio de dinheiro para o próprio bolso ou para o caixa 2 de campanhas políticas; ou má gestão, emprestando dinheiro de modo arriscado a terceiros com baixa solvabilidade) que geram uma situação financeira ruim para o banco (mas não para o banqueiro).

Então, o que os governantes (que foram eleitos com o dinheiro doado pelos bancos para o financiamento de campanha, principalmente via caixa 2) fazem?

Pegam o dinheiro (tributos) do contribuinte trabalhador (que já não dispõe de bons serviços públicos) e dizem que têm que usá-lo para "salvar os bancos " e "evitar o risco de o sistema bancário ser contaminado com uma crise de confiança e quebrar" (o chamado "risco sistêmico").

O risco sistêmico ocorre porque diante da notícia de que um banco está para quebrar, correntistas de outros bancos podem ser tentados a retirar o seu dinheiro destes últimos. E se todos correm para tirar o seu dinheiro dos bancos, o sistema quebra, pois como os bancos emprestam o dinheiro dos correntistas a terceiros, não dispõem de numerário suficiente para devolver o dinheiro de todos os correntistas caso estes resolvam sacá-lo de volta no mesmo momento. 

Então, para evitar o tal do "risco sistêmico" (que geralmente é mais fictício do que real, já que não há critérios seguros para avaliar a efetiva existência do risco) os governos (leia-se: os políticos financiados pelos banqueiros) pegam o dinheiro público e compram a parte "podre" (endividada com títulos que não serão quitados) do banco, e devolvem a parte "sã" (lucrativa) ao "mercado" (ou seja, aos próprios banqueiros, que sempre ganham). Desta forma, os financistas conseguem sempre privatizar os lucros e socializar os prejuízos.

Mas como os banqueiros conseguem isto? A questão é que a posse (não necessariamente a propriedade) de altas somas de dinheiro confere-lhes um grande poder de "influenciar" (rectius: corromper ou intimidar) políticos, altos funcionários do governo e magistrados das cortes superiores, e assim os financistas obtêm quase sempre decisões (no âmbito dos três Poderes) favoráveis aos seus interesses.

Lembrando que quem arca com o altíssimo custo da operação de "salvamento" é o contribuinte de tributos (ou seja, nós). Todos os cidadãos pagam tributos, direta ou indiretamente. Em cada produto ou serviço que nós compramos está embutido ICMS, ISS etc. E quando dinheiro de tributos é direcionado para "salvar" bancos, o governo deixa de investir em educação, saúde, fomento à cultura de qualidade etc. 

No caso dos políticos que integram o Poder Executivo, esta big "ajuda" aos bilionários banqueiros, com dinheiro público, garante que nas próximas eleições estes últimos (os banqueiros) farão generosas doações (declaradas [lícitas] e sobretudo não declaradas [ilegais]) para campanhas políticas. 

Enquanto isso, os banqueiros que deram causa à possibilidade de "risco sistêmico" continuam com o seu gigantesco patrimônio pessoal intocado (mansões, iates, hotéis, cassinos, indústrias, ações etc), não são processados por gestão fraudulenta/temerária (ou, se o são, não são condenados pelo Judiciário - em razão de incompetência, ineficiência ou corrupção), e quem se dá mal é o contribuinte trabalhador. Mesmo que o banco vá à falência (o que é raro) e feche as suas portas, o banqueiro sempre dá um jeito de manter o seu patrimônio pessoal intocado (ou quase totalmente intocado). Há advogados especializados em "blindagem de bens", que utilizam todos os artifícios possíveis (colocação de bens em nome de "laranjas" ou familiares, corrupção ativa de magistrados, promotores etc) para tal finalidade. 

Então, esta é a "megamaracutaia do risco sistêmico" que sempre se repete. Já aconteceu no Brasil (no caso do PROER na década de 80), aconteceu há alguns anos nos EUA, e agora acontece na Europa. E neste ano de 2011 o governo brasileiro já concedeu algumas bilionárias anistias tributárias a bancos (sob a mesma alegação de possibilidade de contaminação com a crise européia e risco sistêmico). 

As pessoas precisam entender como funciona o golpe e dar um basta nesta roubalheira institucionalizada, exigindo novas formas de financiamento de campanhas políticas, regulamentação e fiscalização eficiente da gestão financeira dos bancos, responsabilização criminal e civil efetiva dos banqueiros que praticam gestão fraudulenta ou temerária, dentre outras medidas. Atualmente temos praticamente no mundo inteiro governos dos bancos e para os bancos, sendo que estes dominam a grande mídia e os políticos. Estes dois elementos (grande mídia e políticos) são somente serviçais dos banqueiros (com raras exceções entre os políticos). 

Já é hora de entender os mecanismos e relações diretas e indiretas que geram a ação destas máfias e lesam as pessoas comuns, como nós. E, depois, deve-se começar a pensar numa nova formatação (mais publicista e menos privatista) para o sistema financeiro. É necessária também a implantação urgente de um novo sistema de financiamento de campanha, que possibilite ao político se comprometer com o interesse público e não com o interesse dos grandes financiadores.

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