segunda-feira, 21 de março de 2011

Spinoza e o cultivo das emoções positivas, por António Damásio


Transcrevo, abaixo, um trecho do livro "Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos" (cuja leitura desde logo recomendo), do neurocientista português António Damásio.

Como já mencionei neste blog em um post anterior, há muito em comum entre a filosofia ocidental e a oriental. Os orientais descobriram há séculos a importância do cultivo racionalmente deliberado das emoções positivas, e é mais ou menos isto que Spinoza iria propor posteriormente, no século XVII. Este, inclusive, é o princípio básico do budismo (que sugere a meditação compassiva diária).

No texto abaixo o termo "paixão", que é plurissignificativo, foi utilizado pelo autor como sinônimo de emoção negativa (que gera sofrimento), e não como representativo de afeição romântico-sexual. Segue o trecho:

"Espinosa propôs também que o poder dos afetos é tal que a única possibilidade de triunfar sobre um afeto negativo - uma paixão irracional - requer um afeto positivo ainda mais forte, desencadeado pela razão. Um afeto não pode ser controlado ou neutralizado exceto por um afeto contrário mais forte do que o afeto que necessita ser controlado. Em outras palavras, Espinosa recomendava que lutássemos contra as emoções negativas com emoções ainda mais fortes mas positivas, conseguidas por meio do raciocínio e do esforço intelectual. A noção de que subjugar as paixões devia depender de emoções guiadas pela razão, e não da razão pura, é parte central do pensamento espinosiano. Essa recomendação não é fácil de realizar mas Espinosa nunca deu grande valor a nada que fosse fácil."

(DAMÁSIO, António. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, p. 20)


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